quinta-feira, 19 de abril de 2007


A transfiguração da tragédia



A Beleza da arte transfigura a vida e enche de coragem para encarar os sofrimentos s da existência com um olhar de esperança


A arte é um dom divino que nasce dentro de todo homem. Alguns, durante a vida, descobrem que são artistas e lapidam esse diamante. Outros não percebem o poder que a beleza tem, e não arrancam de dentro de si a poesia, o amor, nem a possibilidade de libertar-se da dor e da amargura que a vida às vezes lhes causa.
Na faculdade, me disseram que arte é a capacidade que o homem tem de expressar sentimentos, idéias e emoções. Eu concordo e sei que todo artista tem um carisma que não é só seu, pois vem de Deus, é manifestação do divino. O artista mexe com quem está perto e com quem está longe. Aquele que tem contato com a arte muda. Não existe possibilidade de ter contato com a arte e continuar sendo sempre o mesmo. Já fiz teatro, escrevi peças, interpretei, e experimentei a força e o poder dessa manifestação. Entrar no universo artístico teatral é mergulhar dentro da religião. Fazer teatro é encenar a poesia.
Adélia Prado, poetisa mineira, escreveu que "A experiência poética é sempre religiosa, quer nasça do impacto da leitura de um texto sagrado, de um olhar amoroso sobre você, ou de observar formigas trabalhando" O sagrado está na criação e não só dentro dos templos, e o teatro pode resgatar a sacralidade desse dom de interpretar e assumir personagens que retratam a ficção ou a realidade, e nos fazem sonhar.
O artista nunca se arrasta, ele está sempre voando porque sabe que a maior liberdade é ter o céu, sem esquecer da terra. Não concordo quando dizem por aí que poucas pessoas gostam do teatro. Muitas gostam da arte, gostam de teatro mas ele virou produto de consumo e na maioria dos casos poucos podem pagar por ele. Quando um espetáculo é acessível, tudo muda. A casa fica lotada não só com a elite, mas com pobres e ricos, todos provam desse mundo artístico democrático.
A paixão pela arte é a paixão pelas diferentes manifestações do Belo, que é Deus. Quem conhece o teatro, se apaixona por ele. Chora pelo personagem no palco e pelos personagens ilusórios que criou durante a vida. Uma peça de teatro pode ser uma peça de teatro e só; mas se você mergulhar no mundo da arte ela pode ser um convite à autenticidade, a aceitar as diferenças do outro e a sua própria diferença; um convite para que você assuma o papel de ser você mesmo, e não outro personagem. Eu preciso me repensar, repensar o mundo, minhas relações. Se a correria me fez perder o rumo, o sentido e a qualidade da minha vida é preciso experimentar a arte. O teatro tem esse poder de mostrar-nos um pedaço da vida, ele nos atinge, nos tira da rotina, nos move. A arte como expressão do Belo, do divino, precisa ser resgatada com muita audácia e aqueles que estão tendo contato com este texto com certeza são convidados a serem os agentes da implantação de uma cultura teatral que deixa no coração das pessoas as pegadas do Grande Artista: Deus!
Dentro da obra O Espelho de Machado de Assis, encontramos o texto Idéias sobre teatro, no qual ele afirma que: "À arte cumpre assinalar como um relevo na história as aspirações éticas do povo – e aperfeiçoá-las e conduzi-las, para um resultado de grandioso futuro. O que é necessário para esse fim? Iniciativa e mais iniciativa". Escrever este texto é uma das minhas iniciativas. È a minha parte. Cada um precisa descobrir a sua, e partir para a ação.
Rainer Maria Rilke que entendia a arte como uma atividade religiosa dizia que o "Belo é o trágico que contemplamos sem que ele possa nos destruir." Os gregos criaram o teatro a partir de suas experiências religiosas. Um gênero que intriga a muitos é a tragédia. Muitos gregos iam ao teatro para ver a tragédia e porque suportavam ver esse tipo de representação e voltavam para ver outra do mesmo gênero? Porque a arte e a beleza transfiguravam as tragédias dando-lhes novo significado sem as destruir e sem destruir os que assistiam. Escrevi estas linhas a pedido de Luciano Mattos para colocar no livro que ele está prestes a lançar sobre evangelização a partir do teatro. Sei do trabalho que esse autor faz com os jovens e adolescentes da Comunidade Aliança de Misericórdia e da FEBEM, ministrando aulas e fazendo algo semelhante ao que os gregos faziam com a arte. Diante da tragédia da vida desses meninos e meninas a Beleza lhes transfigura a vida e lhes enche de coragem para encarar os sofrimentos inevitáveis da existência com um olhar de esperança.O homem pode escolher ser o que quiser na vida. O caminho das artes é um dos mais belos. Quem é artista, torna-se imortal, eterniza sua vida, mente, jeito, gostos, amores e revoltas. Oscar Wilde no livro O retrato de Dorian Gray disse que "revelar a arte e encobrir o artista é a razão de ser da arte!" O Luciano escolheu a melhor parte! Que Deus o abençoe, que ele diminua e que a arte cresça! Que ele diminua e Deus, o Belo, apareça!

Diego Fernandes (
"Fala sério, é proibido ser diferente?", é autor do livro infantil "Orações curtinhas".
http://diegofernandes.blogspot.com

quarta-feira, 18 de abril de 2007

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